domingo, 27 de março de 2011

Coisas da Hungria (parte 4)



Um fato que poucos sabem é que a Transilvânia, lar do famoso Conde Drácula, monstros e outras criaturas da noite, só se tornou território romeno há pouco mais de noventa anos. Antes disso, sempre pertenceu à Hungria. O lugar é tão húngaro, que mais da metade da população fala o idioma magiar, deixando a Romênia apenas com o direito de posse da terra.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Hollywood é logo aqui

A terra da páprica, pálinka, planícies e inventores, começa agora a receber outro título: o de capital européia do cinema.

Nos arredores da aldeia húngara de Etyek, 29 km a oeste de Budapeste, há uma vasta área aberta cercada por vinhedos. Durante a Guerra Fria, serviu de base militar para treinar mísseis na Europa Ocidental. Hoje, os mísseis já não estão mais presentes, mas foram substituídos por outro tipo de tecnologia: câmeras de alta definição. O local agora é lar do Cinema Korda Studios, uma instalação de cinema maciça de alta tecnologia, que graças ao preço barato da produção, paisagens e arquitetura rústicas e incentivos fiscais, vem se tornando o principal destino de filmagens hollywoodianas no exterior.

Em abril do ano passado, o Raleigh Studios (lá dos EUA), em parceria com o Origo Hungary Film Group, abriu as portas do milionário Korda, que pelo tamanho, sofisticação e tecnologia, se tornou o maior de toda Europa. Recém inaugurado, o estúdio foi lar das filmagens da comédia romântica Monte Carlo, da 20th Century Fox. E foi apenas o começo do sucesso. A minissérie histórica The Tudors, o thriller de horror O Rito (ou O Ritual, não sei como ficou a tradução do Brasil), com Anthony Hopkins e a brasileira Alice Braga; Caça às Bruxas, com Nicolas Cage; um novo filme de Angelina Jolie (ainda sem nome) e Bel Ami (o que causou histeria das adolescentes húngaras por ter o ator Robert Pattinson, de Crepúsculo, como ator principal, dificultando a equipe do filme a prosseguir as tomadas), foram um dos principais mais recentes lançamentos gravados na Hungria. Budapeste também foi cenário de produções como Hellboy, Evita, Munique, Anjos da Noite, Eu Espião, Mortal Kombat e O Fantasma da Ópera, além da película brasileira Budapeste - adaptação do livro de mesmo nome, de Chico Buarque.

Além de filmes para o cinema, a cidade também recebeu artistas como Katy Perry, Michael Jackson, Selena Gomez e Gwen Stefani  para gravarem os seus clips musicais. 

Depois de tantos lançamentos, o país respira cinema. Hoje, é possível tomar um cafezinho com Angelina Jolie ou fazer uma caminhada com Keanu Reeves (que começou essa semana as gravações de seu novo filme), por exemplo. Ah, e eu, enquanto não encontro nenhum famoso, vou vivendo o meu próprio filme esperando uma ligação de Angelina...

segunda-feira, 21 de março de 2011

Macacos, ensopados e outros "ados"...

 Durante um jantar em família...

-E aí, Tiago? Prove o meu ensopado. - Disse a avó.
-É que... eu não gosto de macaco.
-Macaco? Você não gosta de macaco? - Repetiu.
-Nem frito, nem assado e nem em ensopado. - Disse eu, na esperança de não precisar prender a respiração para comer algo novamente.
-No Brasil vocês comem isso? (Macaco)
-Sim, mas eu não gosto...
-Pobrezinhos... São os da Amazônia? - Perguntou a avó, com olhar de dúvida.
 A partir desse momento percebi que algo estava errado. Eu e a minha capacidade de trocar palavras "parecidas" por outras completamente diferentes me fizeram perceber que eu havia cometido mais um erro.
-Não, Tiago... Aqui na Hungria nós não comemos macaco. É ensopado de fígado!

Depois dessa, acabei comendo o "macaco" que me deram e me enrolando mais ainda para explicar que não, nós não comemos macacos, ou qualquer primata, na "Terra de Índios".

Ah, para esclarecer a confusão, "majom" e "máj" são parecidos, tá?

quarta-feira, 9 de março de 2011

Papangus da Hungria

Não, não estou em Bezerros ou muito menos no Brasil. Sim, aqui tem carnaval, e em Mohács, a festa é comemorada em grande estilo. E cheia de papangus.

Mohacs Hungarian Winter Farewell Carnival

A mais famosa festa de carnaval húngara começa seis dias antes da Quarta-Feira de Cinzas. O "Busójárás" (sem tradução para outra língua), é um evento que dá as "boas-vindas" à primavera. Foi criado pelos "sokc", uma minoria étnica que vivia na região durante a ocupação turca no país.


Sokci fiddler

Para espantar os turcos, eles vestiam assustadoras máscaras feitas de salgueiro e pele de ovelha e faziam barulho com sinos e outros instrumentos. Os que praticavam o ritual, foram considerados os verdadeiros responsáveis pela expulsão dos turcos da Hungria. "Se espantamos os turcos, por que não espantar o inverno?". Deve ter sido essa a linha de pensamento que criou a tradição que atrai milhares de turistas até hoje. São organizadas marchas com dezenas de fantasiados com o intuito de mandar o inverno lá pro Brasil espantar a estação mais fria do ano.

                                buso portre


File:Buso masks.jpg

Tudo isso veio a se tornar uma famosa atração turística depois que a UNESCO reconheceu a manifestação como patrimônio cultural da humanidade. As diversas atividades culturais, exibições, concertos e perfórmaces de folk dance atraem mais de 20 000 visitantes todos os anos. É a Hungria mostrando que também tem um carnaval de peso...


...mas não tão animado quanto o do Brasil.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Afinando em húngaro (parte 2)

Uma música da mais famosa banda húngara atualmente:


#freeisaura

No período em que a Hungria era dominada pelo comunismo, o entretenimento e mídia eram altamente controlados pelo governo, que inspecionava cuidadosamente cada material que tinha a finalidade de ser transmitido pelo rádio ou TV.
Porém, diante dessa realidade, o país ganhou um "presente" vindo do nosso país. Presente esse que de certa forma mudou o cotidiano da população.


Há 35 anos, estreava no Brasil a novela "A Escrava Isaura", sucesso que foi exportado para vários países, inclusive à Hungria.
As aventuras e romances de Isaura e Leôncio tiveram papéis fundamentais na distração do povo húngaro, na época em que "entretenimento" era sinônimo de tédio e censura.
A série foi a primeira a ser transmitida no país, com o objetivo de "controlar as massas". E deu certo.

A hora da novela era sagrada. Não se trabalhava, não se saia de casa. As seqüências da trama viravam capa de jornais e assunto de conversa entre amigos.
O fanatismo era tão grande, que mesmo com toda a limitação financeira, foi feita uma "vaquinha" para trazer os personagens à Europa e enfim "libertar" Isaura.
Quando chegaram ao continente velho (especificamente na Hungria), os personagens eram esperados por filas que duravam dias, feitas por pessoas que tinham o único desejo de ganhar um aceno ou autógrafo dos ídolos. Há relatos de uma criança cega que passou dois dias na fila apenas para dar um "conselho" à escrava.

Depois de ser aprovada como experimento do governo húngaro, a trama seguiu para diversos países, criando histórias absurdas. Na Rússia, a palavra "fazenda" passou a integrar o vocabulário dos eslavos. Na Itália, Isaura tornou-se mártir de causas libertárias, com seu nome pichado em muros. Em Cuba, Fidel Castro mudou o horário de reuniões para não perder a novela. Na Bósnia, a guerra era interrompida durante a transmissão da série.

Hoje, o nosso país é conhecido pelo futebol, pelo samba, carnaval e praias. E, na Hungria, também pelo fenômeno que ajudou a iludir a população diante do autoritarismo do governo e inspirar os meios de mídias atuais.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Coisas da Hungria (parte 3)

A maior goleada de todas as Copas foi Hungria 10 X 1 El Salvador. O atacante húngaro László Kiss se tornou o primeiro reserva a marcar três gols em uma partida de Copa do Mundo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A m#*da é grande!

Quando se está aprendendo uma língua nova, micos são inevitáveis e quase sempre freqüentes.

Cometer o mesmo mico uma vez é humano, duas, perdoável, mas três tira qualquer brasileiro do sério.

Estava fazendo uma apresentação sobre o Brasil, quando me vem a cabeça falar um número relacionado ao assunto. Em húngaro, o correto seria "száz" (cem), mas minha boca teimou em falar "szar" (algo como m#*da). Foi assim até alguém me informar sobre o erro.
Corrigido, passei para o próximo tópico e outra palavra  me veio à cabeça. Agora, o correto seria "szer" (vez), mas... a "szar" já estava feita. Falei novamente e fui mais ainda alvo de risos.
Parece brincadeira, mas, quando a desventura começa, custa a terminar. Falei szar pela terceira vez e fiz história. História de uma das maiores m#*das já feitas naquele palco.

Não ficção

Esse é um vídeo feito por uma intarcambista australiana que deixou a Hungria em janeiro. Infelizmente, não é em português, mas retrata bem a vida dos "novos húngaros".

Ao chegar na Hungria:

-Nunca rejeite uma Pálinka(caso contrário, você saberá o que é um húngaro ofendido)
-Visite Budapeste à noite;  (e se encante com a luzes dos monumentos)
-Nunca comente com um húngaro sobre o Tratado de Trianon(alguns ainda não estão conformados)
-Aprenda a comer macarrão de colher;
-Afirme com toda certeza que o húngaro é a língua mais difícil do mundo; (isso aumenta o ego deles)
-Coma com gosto tudo o que oferecerem;
-Nunca esqueça de se descalçar antes de entrar nas casas;
-Visite um famoso banho termal;
-Nunca compre mercadoria de rua; (NUNCA!)
-Prove o famoso Langos(aqueles vendidos como pastel de feira são os melhores)
-Não tente enrolar os fiscais do metrô falando outra língua; 
-Se algum húngaro fechar com a sua cara, diga que é brasileiro e que Puskas é tão bom quanto Pelé;

Aproveite toda a peculiaridade do país que encanta todos os seus visitantes e não esqueça a máquina fotográfica para registrar o rústico e interessante lugar.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Afinando em húngaro (parte 1)

Série com as melhores músicas húngaras (ao meu gosto), começando com a banda "Quimby" e sua "Autó egy szerpentinen". 



Pacato cidadão

A diferença mais forte entre Brasil e Hungria é, sem dúvidas, a segurança.
Todos os dias se vê na TV húngara matérias sobre tudo (leia-se cultura inútil), menos violência.
Porém, algo que chocou os habitantes do país aconteceu há algumas semanas. Três meninas morreram dentro de uma boate. A suspeita é de assassinato ou de pisoteio - algo que causou desespero e revolta na população. O assunto é capa de todos os jornais e ocupa todos os minutos possíveis dos noticiários.
O fato é uma anormalidade tão grande para o país que, em respeito ao fato, escolas fecharam por algum tempo em Budapeste e as boates terão que formalizar um esquema de segurança se quiserem continuar funcionando.

Com grande tristeza e desapontamento, fui questionado por uma colega de classe à respeito do assunto. Ela queria saber se esse tipo de coisa também ocorre no Brasil.

No meu país, a maioria das pessoas sai de casa sem ter a certeza de que vão voltar. Lá, quando chacinas acontecem, levam no máximo cinco minutos no Jornal Nacional, devido à "normalidade" do fato (ou duram semanas na mídia quando há interesse no sensacionalismo).
No meu país, é bem mais importante se manifestar por um time de futebol ou por um capítulo de novela, do que protestar contra a falta de segurança pública alimentada pela corrupção do governo.
No meu país, as pessoas estão com medo até da polícia que, ao invés de proteger os habitantes do local, vem freqüentemente os fazendo de vítimas.

Pensei nisso tudo antes de responder a pergunta mas, como bom intercambista, respondi apenas o conveniente.
Lembrei que o Carnaval, as praias e festas escondem os defeitos da nossa nação e tapam os olhos da população, que prefere se entregar ao comodismo do que lutar por um país decente.

Talvez o fato do tamanho alarde criado em torno das três meninas seja pela carência da mídia em reportar algo trágico. Ou talvez a razão mais óbvia para isso venha dos húngaros, que não aceitam ser feridos em um de seus direitos mais básicos e fundamentais: a segurança.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Festas de fim de ano (parte 2)

Boldog Új Évet!


Nada de branco, sete ondas ou grandiosas explosões de fogos de artifício. Na Hungria, a vinda do novo ano é comemorada com uma festa simples, onde não é praticada nenhuma superstição, abraços ou desejos daqueles sentimentos esperados para o respectivo início do calendário.
A tradição da noite é cantar todas as músicas possíveis num karaokê e comer muita, mas muita lentilha (pois, ao que parece, a única coisa que os húngaros desejam no revéillon, é dinheiro).

A noite em que virei pingüim



Todos os anos as escolas da Hungria preparam um baile de fim de ano para as turmas que estão prestes a se formar. Fui convidado para um deles e resolvi compartilhar algumas fotos da noite que se resume em duas palavras: Happy Feet.


Festas de fim de ano (parte 1)

Boldog Karacsanyit!


E o meu tão esperado Natal no gelado Hemisfério Norte foi... sem neve!


O Natal húngaro dura oficialmente três dias. E nada de Papai Noel trazendo presentes. Quem dá conta do trabalho é o "Menino Jesus", que no dia 05 de dezembro deixa chocolates para as crianças que penduram uma meia na janela.
A árvore daqui é montada apenas no dia da ceia e é um pinheiro de verdade, retirado da natureza. Tradição que todos os anos mata milhares de árvores, que duram mais de cinco anos para chegar ao tamanho ideal e depois vão para o lixo. Sim, pro lixo.
E ah, diferentemente do Brasil, na noite da véspera de Natal todos vão para cama antes da meia-noite, exceto o brasileiro aqui. E a família do brasileiro...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Esztergom

Antes de falar sobre a minha visita à Esztergom, aqui vai um pouco sobre a cidade:



Esztergom é uma pequena cidade no norte da Hungria, cerca de 50 km a noroeste de Budapeste. Está localizada no condado de Komárom-Esztergom, na margem direita do Danúbio, rio que constitui, naquele trecho, a fronteira com a Eslováquia.
Foi a capital da Hungria do século X ao XIII, e ainda é a sede do primaz da Igreja Católica no país. Sua catedral, a Basílica de Esztergom, é a maior da Hungria.
A ponte Mária Valéria, sobre o Danúbio, leva à cidade de Štúrovo na Eslováquia e é um dos mais mais recentes acréscimos à paisagem do local. Originalmente construída em 1895, foi destruída pelas tropas alemãs em retirada, em 1944, e foi então reconstruída em 2001, com apoio da União Européia.

Depois de uma longa viagem se tratando de Hungria (3 horas de trem), cheguei à cidade pela noite num frio de -11ºC. Impossibilitado pelas óbvias condições climáticas de fazer algum passeio, esperei para fazer meu tour no dia seguinte. 
Comecei pela famosa Basílica (uma das maiores da Europa). A grandeza da construção é impressionante, faz qualquer outra construção erguida perto do local, insignificante. E o que já era bonito, fica ainda mais com a incrível vista da cidade daquele ponto. Coisa de filme! 
De filme mesmo. No outro dia, seguimos para o local onde há um mês foram gravadas cenas do novo filme de Angelina Jolie. O cenário: o grande Duna rodeado das tradicionais e antigas casinhas européias. O fato mais interessante era a bandeira da Sérvia erguida no lugar da bandeira húngara. Calma, tudo para o filme. O problema é que esqueceram de tirar!

Tudo muito bonito, mas daí vem a realidade nos lembrar que Esztergom não é bem o tipo de lugar para se passar cinco dias visitando. Quando as atrações acabaram, o jeito foi improvisar.
Fomos a um famoso banho termal húngaro (no caso, eslovaco, pois atravessamos a ponte). Sensação única: temperatura ao redor de -8ºC, sauna quente, mergulho numa banheira gelada e, logo após, o trunfo de nadar e relaxar numa piscina térmica ao ar livre, rodeada de neve. 
Nos últimos dias, rápidas caminhadas pela cidade e à noite uma escalada numa montanha (com direito a todos os equipamentos) para chegar ao ponto onde se pode ter a melhor e mais bonita vista da cidade. O cansaço, o frio e  algumas escorregadas na neve foram rapidamente esquecidos quando cheguei no topo. 

No fim de tudo estava cansado, morto, no fim da linha, porém saí dali com boas memórias do lugar mais velho e mais bonito da Hungria.