domingo, 26 de setembro de 2010

Tá tudo dominado

Com origem na colonização, o famoso "jeitinho brasileiro", usado para denominar atitudes como trapaça ou a famosa "malandragem", acaba de se espalhar pelo mundo.
Tudo bem que brasileiro pode ser encontrado em qualquer esquina, de qualquer país, mas o fato agora é outro.

Vim para Hungria apenas com um visto provisório, tendo que tirar a residência de um ano quando chegasse.
Tentei resolver toda a documentação em Szolnok, mas recebi a notícia de que teria que me deslocar até Debrecen, uma cidade não muito longe daqui.

Cheguei da escola e fui com o meu pai anfitrião até lá. Duas longas horas silenciosas de viagem. A língua era um empecilho para a comunicação.
Como tudo relacionado à burocracia toma tempo, tinha a consciência de que demoraria uma eternidade na sala de espera da polícia.
Precisava voltar até às seis da tarde para poder comparecer à festa de aniversário surpresa da minha irmã anfitriã, mas sabia que isso talvez não fosse possível por causa do tempo.

Chegamos na polícia e retiramos a senha de atendimento. 185 era o número. A vez ainda estava no 104. O lugar estava lotado de asiáticos (como tudo aqui).
Já estava conformado em esperar pelo menos umas quatro horas na fila para ser atendido, até ser surpreendido por um homem.

"Você falar português?" Fui questionado.
Não, dessa vez não era brasileiro . Se tratava de um professor de matemática húngaro que tinha morado no Brasil por um ano (inclusive em Recife), tudo a trabalho.
Papo vai, papo vem, e ele me pergunta o motivo da minha vinda à Hungria.
Quando expliquei que estava aqui para estudar, recebi a informação de que teria que dar tudo de mim para poder acompanhar os colegas de classe.
A princípio, achei que ele estivesse falando da língua, mas logo ouço: "A ciência da Hungria não é igual a do Brasil. O brasileiro é um povo malandro, aqui não tem como enrolar não. Não dá pra dar jeitinho em nada."
É óbvio que levei tudo na brincadeira, mas isso me fez parar para pensar sobre a visão que nós, brasileiros, temos aqui fora.
A conversa é interrompida quando o nome do homem é anunciado.
Instantes depois escuto meu nome para comparecer à mesa de atendimento.
Sem entender porque tinha chegado minha vez tão rápido, fui até ao atendente, entreguei meus documentos e escutei uma voz pelas minhas costas: "Dei um jeitinho para você!".
Depois disso, consegui chegar a tempo para o meu compromisso e descobri a desgraça que brasileiro é.
Está certo, o senhor ali não era brasileiro, mas com certeza foi contaminado por algum.

As 10 coisas mais estranhas

E terminando a trilogia:


10. Ver constantemente velhinhos de 80 anos andando de bicicleta;


09. Tomar sopa todos os dias na hora do almoço;


08. Falar "forró" pra dizer que está muito quente;


07. Se levantar da banca todos os dias e dizer "bom dia, querido professor!" (igual ao Chaves);


06. Assistir "Caminho das Índias" em húngaro;


05. Jantar quando ainda está claro;


04. Não ter lugar para sair aos domingos, pois tudo (tudo) fecha;


03. Comer macarrão com açúcar (eca);


02. Tirar os sapatos para entrar em casa;


01. Ver os húngaros assoando o nariz sem pena durante as refeições (em qualquer hora, na verdade).

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

As 10 piores coisas da Hungria

Como nem tudo são flores, aqui vai o lado negro da coisa:


10. Comer um pão gigante e doce todos os dias no "reggeli" (café da manhã);

09. Gastar o equivalente à R$ 2,00 para mandar uma mísera mensagem de texto;

08. Comer pratos que derivam de vísceras de animais;

07. Ir para um dos maiores shoppings do país e se sentir no Polo Comercial (afinal, temos o Shopping Recife);

06. Acordar morrendo de frio e dormir morrendo de calor;

05. Ver como é ruim a qualidade da televisão (afinal, temos a Globo);

04. Escutar mil vezes a mesma música na rádio num intervalo de uma hora;

03. Se perder facilmente nas ruas por serem todas iguais;

02. Não conseguir se achar por não entender as informações dadas;

01. Ter a consciência de estar vivendo num país onde a língua é considerada a segunda mais difícil do mundo.

As 10 melhores coisas da Hungria

Fiz uma lista com as melhores coisas do país até o momento:



10. Sopas;


09. Poder caminhar pela noite sem medo de ser assaltado;


08. Achar que tem o pior futebol do mundo e perceber que é muito melhor que os húngaros;


07. Falar que é brasileiro e automaticamente virar o melhor amigo da pessoa que perguntou;


06. Poder visitar Budapeste quando der vontade;


05. Poder visitar qualquer cidade quando der vontade;


04. Mexicorn*;


03. Langos*;


02. Poder atravessas as ruas tranquilo, sem se preocupar com os carros (eles vão parar para você passar);


01. Água mineral gelada de graça nas ruas!





*Mexicorn



*Langos












Resumo

Os dias em Szolnok estão passando normalmente.
Acordo cedo, vou para escola, assisto as aulas e almoço. O almoço é no colégio, porém as vezes evito comer lá. Tudo por culpa de um certo estrogonofe de orelha que foi servido um dia.
Sempre procuro fazer algo com os intercambistas, pois tem hora que estudar húngaro pela tarde cansa.

Continuo passando por momentos complicados, como o da noite passada, em que descobri que o "creme de azeitona" que comia todas as noites com pão, era na verdade fígado moído. De agora em diante decidi NUNCA mais perguntar o que estou comendo, principalmente se a comida for boa (difícil).

Fui convidado para dançar em um baile (como aqueles de filme) e agora terei que fazer aula de dança três vezes por semana. Ainda estou pensando se me arrependo disso ou não.

Na primeira segunda-feira do mês marquei presença numa reunião do Rotary, onde recebi minha mesada, li um texto em húngaro e escutei o mexicano cantar Pavarotti para todos os presentes. Sim, Pavarotti. E muito bem!

Finalmente entrei numa academia. Mas já saí dela. Aqui não há instrutores e o ambiente é pesado demais.
Vou tentar agora outro esporte. Fui convidado para praticar remo no rio que corta a cidade. Quem sabe dá certo (se me agradar, continuo meu treino no rio Ipojuca).


Sigo minha vida acumulando fatos para postar aqui. Novamente, obrigado aos que acompanham. A cada semana o número de visitantes aumenta.

Jó napot kivánok!

sábado, 4 de setembro de 2010

A primeira desafinada...

... a gente nunca esquece!


Mas vamos deixar esse assunto para o final.

Agora: Budapeste.


No dia 27 visitei uma das melhores cidades que já fui em toda a minha vida. Marci precisava fazer uma prova, e como não sou besta, fui com ele e seu amigo Andris (guia turístico) para Budapeste.
Budapeste é uma cidade dividida em duas, separadas pelo rio Danúbio: Buda e Peste. Tem quase o triplo da idade do Brasil e consegue ser mais bem preservada do que muitos lugares novos que existem por lá.
A cidade é cheia de construções centenárias e até milenares, praças muito bonitas e arborizadas. Noventa por cento das pessoas são turistas, e oitenta e cinco por cento deles são asiáticos. É japa pra todo lado, não acreditava que estava na Hungria. Tiram foto até dos bueiros das ruas, incrível!
Chegamos à Budapeste às oito da manhã. Para isso, tive que acordar às cinco, muito cedo para os padrões húngaros. Ainda estava escuro e muito frio.

Pegamos um trem em Szolnok e depois de uma hora estávamos em Buda.

De primeira, não sabíamos onde ficava a escola em que Marci faria a prova, e nos perdemos. Quando nos achamos, deixamos ele no local e seguimos para explorar a cidade.

Andris já conhecia o lugar, então ele me levou para os melhores pontos turísticos. Começamos pelo palácio da cidade, um lugar com mais de quinhentos anos. O sol estava muito, muito forte. Novamente não fui preparado e agora o bronze é pior do que dois janeiros em Maragogi.

Algum tempo depois me encontrei com Aryane, a intercambiária de Petrolina que está em Budapeste.

Visitamos os lugares mais bonitos. Conhecemos igrejas, vimos a mão do primeiro rei da Hungria mumificada há mais de mil anos, fomos ao Parlamento, tiramos muitas fotos e caímos mortos em um restaurante japonês para almoçar. Foi um dos piores restaurantes que já fui em minha vida.

Fechamos a tarde com um cafezinho no Starbucks e seguimos de volta para Szolnok.
Cansado e com os pés doendo de tanto caminhar, ainda saí à noite para o encerramento do festival “Tiszavirág”, uma celebração que acontece todos os anos na cidade para comemorar a chegada de uma espécie de inseto muito bonita, que “surge” dos dois rios que cortam a cidade e vivem apenas um dia.

No dia seguinte dormi mais do que devia e saí à noite para conhecer um pessoal da minha futura escola.



No domingo, o grande momento.

Eu fui alertado pela manhã que minha mãe hospedeira faria o almoço preferido da família. Fiquei animado, afinal gosto um pouco da comida daqui. Mas mal sabia eu o que me esperava.

A manhã se passou e fui convidado para o “ebéd” (almoço). Quando sentei à mesa havia uns bolinhos com cara de pão de queijo (porém meio sem gosto). Comecei a comer enquanto o prato principal não chegava.

Alguns momentos depois fui surpreendido com uma coisa preta um pouco esverdeada que caíra no meu prato.
Assim que comecei a comer, senti um gosto muito estranho. A comida tinha cor de carne podre.
Caí na besteira de perguntar o que era, e a palavra “fígado de galinha cozido” entrou nos meus ouvidos.
A partir daí o mau já estava feito. Tentei de todas as maneiras comer sem respirar, pensar em outra coisa, tudo! Mas não teve jeito, não consegui e acabei contraindo meu estômago e dando a famosa “engunhada”. Para o meu azar não tinha nenhuma bebida disponível e comecei a lacrimejar. Quando percebo que todos estão olhando pra mim, dou um sorrisinho e volto a enfiar a comida na boca. Desejei morrer naquele momento.
Daria tudo para comer naquele restaurante japonês de novo, topava até uma buchada.
Terminei o almoço e perdi a vontade de comer qualquer coisa naquele dia.



Enquanto vocês lêem, vou vivendo mais momentos como esses para postar daqui a algum tempo. Os dias estão passando muito rápido e mal tenho tempo para internet.


Para os que questionarem, já estou ganhando novas habilidades com o intercâmbio: virei expert em mímica e em esconder caretas na hora de algumas refeições.

Obrigado aos que acompanham,


Szia!